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quinta-feira, 4 de março de 2010


A SINDROME DA GAIOLA DE OURO


Hoje é comum seu filho vai para escola pela manhã e alguém o leva, curso de inglês na parte da tarde e alguém o leva, no começo da noite ele já esta na natação e mais uma vez foi levado, quando volta ele vai à casa da namorada no mesmo condomínio, chega o fim de semana tem uma festinha de aniversário de um amigo numa danceteria, e a mãe o leva e lá pelas tantas o pai vai buscá-lo.

Seria normal se o mesmo não tivesse dezessete anos e fosse uma massa de músculos de 1.79m de altura.

Normal para você? Ou uma irracionalidade?

Para muitas famílias um cotidiano normal pleno de segurança, proteção condições de vida acima da média, um verdadeiro orgulho familiar e sucesso pessoal e social em decorrência de ascensão social mais que satisfatória.

Seria essa uma prisão, um paraíso ou uma mistura dessas duas realidades tão distintas?

É fato que muitas famílias estão transformando o universo de seus filhos em uma gaiola dourada, provida de todos os confortos necessários, muitas vezes com alto custo, empenhando boa parte de economias e ganhos, numa linha tênue entre o sucesso e a bancarrota.

Esses pais cheios de boas intenções e excesso de carinho e proteção por muitas vezes não percebem que na sua ânsia de proporcionar um mundo melhor e seguro aos seus rebentos, promovem na maioria deles uma transformação de ordem psicológica por vezes irreversível, aonde a noção de realidade é substancialmente distorcida.

Imaginem os senhores, com a simples idéia de proteger o que tem de mais precioso, um pai transforma uma criança em um ser socialmente desajustado, aonde o medo de sair dessa redoma; o medo do externo deturpa seu conceito de justiça e por vezes seu senso de ordem ética onde o que prevalece em sua mente, é a visão e egoísta de “Papai pagou, logo eu posso” tudo ele teme; teme um negro pela visão estereotipada incutida pela mídia, trata um nordestino pela visão da relação patrão empregado, anseia pela mulher ideal pela visão loura, magra e esculpida pelas eternas sessões de academia e liposcultura, e com um lazer a base de praças de alimentação, férias no acampamento, festas no buffet ou no clube e intercambio no Canadá ou Nova Zelândia, muitos desses filhos da realidade dos condomínios não tem a mínima noção do mundo real até que... ele faz dezoito anos e depois de uma sessão de estafantes três anos de decoreba de cursinho, ele passa no vestibular, ganha um carro como recompensa e uma liberdade que nunca tinha esperado ou sentido antes.

Ai vem o perigo; são três os caminhos possíveis para o recém alforriado; ou ele se torna um cara mais ou menos integrado ao sistema a duras penas, e na base da inocência, vai se adaptando ao mundo real e torna se um bom cidadão no final.

Outra vertente que tem aparecido, é aquele que quer desfrutar dessa repentina liberdade em sua plenitude, o máximo possível topa tudo, tem facilidade para se envolver com drogas e álcool com, festas raves, baladas de segunda a segunda entre outras coisas; em alguns os sintomas passam, demorando mais ou menos tempo, no fim até se dão bem.

Temos também uma terceira versão, essa por muitas vezes é mais danosa a sociedade; são aqueles que recém libertos, acham que podem tudo, tratam todos como se fossem seres inferiores, que por ventura são obrigados a fazer na vida todos seus gostos e prazeres, tratam professores como se fossem seus lacaios, os do povo como se fossem servos ao seu dispor.

É daí que surgem os chamados “pit boys” os arruaceiros de plantão, são aqueles que não tem respeito nenhum pelo próximo, sendo que alguns enveredam por caminhos que levam pela ilegalidade explicita, trafico de drogas, roubo de carros importados, agressões então, são parte de um menu trivial.

Muitos os classificam como “rebeldes sem causa”, mas o que são mesmo é malcriados desde berço em suas gaiolas de ouro.

Culpa de quem? Na maioria das vezes com certeza de pais que acham que compensam a ausência, com presentes, viagens, conforto, dependência desmedida na ânsia de proteger.

É muito comum hoje famílias em que tanto o pai como a mãe tem uma rotina de trabalho, tão intensa e estafante que tempo para os filhos é simplesmente um luxo impossível, babas, presentes, escolas de primeira linha, passeios ao exterior, excesso de conforto; nada disso substitui o acompanhamento dos pais.

Temos na periferia problemas de ausência paterna também, mas por motivos diferentes, nos dois casos, temos conseqüências sociais nos dois casos, e são graves da mesma forma, mas aqui cabe uma pergunta.

As conseqüências sociais quem vem dos desajustados, do condomínio atingem severamente o todo da sociedade, assim como os desajustes sociais dos que vem da periferia?

Antes que se forme em seu intimo uma opinião, é preciso lembrar que na pirâmide social, quem esta no topo da cadeia alimentar do poder, geralmente vem das classes mais abastadas; uma distorção comum desde o Brasil colônia.

É desse topo que surgirão os futuros diretores de empresa, juizes, políticos, médicos, engenheiros entre outros.

É claro que não se trata de uma generalização barata rasteira e totalizadora; muitos desses filhos de condomínio, serão pessoas de excelente caráter e formação e que ocuparão seu lugar na sociedade com dignidade e maestria, graças os ensinamentos familiares de ótima qualidade que recebem, mas cá entre nós; a pergunta é pertinente e incomoda.

Vou deixar que cada um tenha ou busque sua própria resposta, mas cabe o alerta aos pais que trabalham demais, tem pouco tempo aos filhos, delegam certos momentos da vida dos mesmos aos cuidados de babás, dão presentes em vez de companhia ou carinho, enfim cercam os seus filhos com todo conforto e qualidade.

Será seu filho uma pessoa socialmente ajustada, você já parou para observar se seu filho tem respeito pelo próximo, ele trata as pessoas com educação?

E você; teve a coragem e humildade de perguntar ao zelador, aos vizinhos ou para a babá se seu filho age com dignidade perante aos outros.

Se a simples recomendação de tais atos te incomoda ou te revolta, não seria o caso de você mesmo olhar no espelho e perguntar.

_Não serei eu também um produto do deslumbramento da gaiola de ouro?

Pense...

Um comentário:

ANTONIO MARCOS DACOSTA disse...

Nessa vida nada é por acaso...
Foi só eu postar esse artigo que acontece a morte do Glauco.
È uma pena de como as coisas se mostram tão verdadeiras em tão curto espaço de tempo