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sábado, 14 de abril de 2007

A VERDADE MERECE AÇOITE?

Em entrevista ao site da BBC, pela ocasião das comemorações dos 200 anos de fim do trafico negreiro pelos ingleses, Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) não imaginava o imbróglio desconfortável, que uma declaração sua ia causar no meio político e social do país. Em resposta a pergunta se no Brasil ainda existe racismo e se existe preconceito do negro com o branco Ela disse
- Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.
Sem querer polemizar mais ainda, e sem defender a postura confusa da ministra ou quem sabe, jogar um balde de gasolina nessa questão já incandescente, precisamos ver algumas questões pela berlinda prática da vida. Há muito tempo nesse país desde a abolição, passando pelas Republicas, Estado Novo e o nefasto período militar, tem se tentado construir a mítica idéia de uma nação politicamente correta nas questões raciais e sociais, é comum nesse país a frase que somos uma democracia racial, ou ouvirmos dizer que no Brasil não tem preconceito e bla bla bla, mas que Estado e esse que não tem preconceitos, mas precisou da falecida e inoperante lei Afonso Arinos durante anos, e que incluiu em sua constituição no artigo 5º incisos XLI e XLII sanções penais especificas sobre o tema?
Será que existe uma dicotomia entre lei e realidade? Se há essa contradição porque então da existência da SEPIR?
Com certeza a Senhora Ministra não foi feliz em sua colocação, mas um fundo de verdade em suas palavras existe, uma comprovação disso é o espelho de nossa sociedade que reflete a condição da população negra; presente em sua grande massa de trabalhadores, mas curiosamente praticamente inexistente nos extratos mais seletivos da mesma.
Os pardos (se é que isso existe) e negros como conta o IBGE são maioria na população, mas praticamente não contam das estatísticas dos cargos de alta hierarquia, seja no setor publico ou privado, civil ou militar. Até mesmo nos bancos das universidades são raros, sempre minoria. Oras bolas! se o contingente universitário vem em sua maioria do seio do povo onde estão os pardos e negros?
Se o próprio governo federal vê necessidade de uma secretária para promover a igualdade racial; essa tal igualdade não existe; e se não existe igualdade racial; existe preconceito? É claro que sim; existe preconceito, pois desigualdade racial não pode existir sem a sombra cinzenta do racismo. E o racismo brasileiro é pior que existe, o velado, aquele que não se revela e mostra a cara, é aquele que da tapinha nas costas, sorrisos e salamaleques, mas que nega a vaga, ou procura pessoas de “boa aparência” é o que diz que tem uma bisavó negra, mas ai da filha se aparecer com um namoradinho mais escuro. _Ele não serve para você, menina. É o que dizem.
Seriamos tolos se acreditássemos que a população negra, não percebe isso, pois percebe na pele e no dia a dia de sua peregrinação para se integrar ao mercado de trabalho, a escola ou a uma situação financeira mais prospera, e como vitima dessa situação reage, não com pedras e paus como na áfrica do sul, ou saqueando e queimando lojas, como em Los Angeles, mas evitando o convívio com os seus opressores, fechando se em guetos invisíveis, sempre evitando ocupar o mesmo espaço físico e social daqueles que não são iguais.
Quando Matilde Ribeiro diz que o açoitado, não tem obrigação de gostar de quem o açoitou, enfiou o dedo em uma ferida que essa nação teima em esquecer, mas que é incomoda e dolorida principalmente aos açoitados, que sempre são lembrados de sua situação passada, seja pelas situações vexatórias que passa diariamente; seja pelas piadinhas infames e politicamente incorretas que escutam assiduamente. Ou não corre a lenda que a Lei Áurea foi escrita a lápis? Duvido qual negro nesse país não ouviu essa piada, pelo menos uma vez na vida e que a mesma não doeu naquela hora como o mais vil dos açoites?
Sendo assim, aos que reagiram como vitimas quando tomaram ciência de tais palavras, se postando como politicamente corretos defensores da igualdade humana, lembrem se, todos os homens nascem iguais, porem alguns são mais iguais que os outros. E como disse Abrahan Lincoln _Todos os homens nascem iguais , mas é a ultima vez que o são...

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