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sábado, 21 de abril de 2007

Humanun Est

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Os limites entre arte e anatomia



Autor: Antonio Marcos da Costa

Ao perguntarmos qual o limite entre arte, estética, ciência, sensacionalismo e mau gosto podemos entrar em conflito com as varias respostas dadas, pois é uma questão emocional, todo ser tem maneiras diferentes de encarar o mundo com visões claras de que gosta ou não, mas na exposição referente ao corpo humano na Oca do Ibirapuera, podemos ter reações surpreendentes e inesperadas e inusitadas.

Um profissional da área de saúde encara a mesma como um parque de diversões, como qualquer criança encararia, já a criança pode tanto encarar como uma situação de extrema curiosidade como o mais horrendo dos filmes de terror. Quanto aos leigos adultos tem formas de reação diferentes, mas que em geral terminam da mesma forma, na completa curiosidade infantil. As religiões implicitaram em nossos cérebros, a imagem teológica de que nosso corpo é de certa forma santo, já que foi criado a imagem dos deuses e essa santificação do corpo faz com que o encaremos como tabu, uma zona proibida, um templo sagrado reduto da pureza da alma. Então como encarar tamanha santidade?



Podemos encarar pelo lado biológico de que o corpo humano é 80% água, basicamente composto de carbono, cálcio e outros minerais, talvez assim desmistifiquemos um pouco tal mito milenar do corpo santo. Só que somos também em sua maioria leigos em ciências biológicas para assim encararmos a exposição de nossa forma física como carne ossos e sangue simplesmente, um monte de matéria orgânica simplesmente. Nos seria prático, mas nos ocidentais temos a mania hereditária da impraticidade, digo isso porque se fossemos nativos da Oceania ou da América pré-colombiana, encararíamos tal exposição de corpos dissecados e órgãos expostos como um grande estoque de comida (ou desperdício já que os corpos estão resinados e impraticáveis para consumo) assim como olhamos com olhos de gourmet, quando vamos a um açougue ou mercado; afinal quantos de nós pensamos que leitão, cordeiro, ou seja, lá o que estiver sendo exposto na vitrine do mercado como uma vida, um ser também. Seriam os canibais mais práticos que nós ao enxergar um outro semelhante como simples comida? É... Realmente é estranho nos imaginarmos como peças de carne no açougue, assim como é estranho nos imaginarmos como um amontoado de matéria orgânica, proteínas, sais minerais, água e cálcio. Por isso devemos visitar essa exposição com olhos atentos não só a ela em si, mas sobretudo ao publico presente e as reações diversas e dispares que iremos presenciar.

É comum notarmos expressões de nojo, principalmente por parte do publico feminino de idade jovem, misturadas com o receio de estar entre pessoas mortas, dos mais velhos e religiosos, e uma certa reverencia por parte de alguns ao falar baixo, como agem as pessoas em templos e velórios, ou o fascínio desmedido das crianças com sua metralhadora giratória de perguntas infindas, e também o descaramento típico dos adolescentes e suas risadas; afinal eles vêem coisas muito piores, nos filmes e vídeo games de hoje aonde um corpo mutilado, é programa de sessão da tarde, mas sobretudo é importante notar que todas essas reações vão desaparecendo e dando lugar a uma só comum à todos; a curiosidade. É tão grande o fascínio, que a falta de conhecimento de nosso próprio corpo exerce sobre nós, que acabam todos, mergulhados na mais completa viagem pelos meandros e entremeios de ossos, veias, músculos e feixes de nervos.

Eu como leigo tinha minhas reservas com tal evento, achava que seria um espetáculo de mal gosto explicito, um circo de horrores nada mais, mas como jornalista e admirador das ciências naturais, tinha uma curiosidade extrema sobre certos aspectos da forma humana, e confesso que mudei radicalmente minhas opiniões sobre o que vi, e ao indagar pessoas presentes sobre a exposição, notei que muitos compartilhavam dos mesmos sentimentos de das mesmas conclusões que cheguei, também percebi que muitos dos presentes, só compareceu, pois a exposição é um vento da moda devido as repercussões que causou em paises por onde passou anteriormente. Quer dizer muitas pessoas foram para lá como se fosse ver obras de Rodin, Michelangelo, ou se fossem a um salão do automóvel... foram porque é um evento da moda, mas se surpreenderam em ser cada vez mais curiosos.

É bom salientar aqui, que foi a capacidade de pensar praticamente, e de usar esse pensamento aliado a sua eterna curiosidade, que fez da espécie humana a espécie dominante, apesar de menos preparada fisicamente que todas as outras a resistir ao meio e as intempéries. Com essa lembrança podemos ter a esperança que tal exposição possa ter despertado a curiosidade em muitos e isso leve esses mesmos a ser no futuro médicos, pesquisadores, biólogos curiosos e interessados em ciência, tornando assim o acesso a cultura mais dinâmica e democrática, apesar dos preços inacessíveis a maioria da população, com ingressos á R$ 30,00 adultos pagantes e R$ 15,00 estudantes aposentados maiores de 65 anos.



Quanto a questão inicial se há limites entre ciência, arte, estética, sensacionalismo e mau
gosto, é melhor deixar de fora o sensacionalismo e o mau gosto, que aqui não são cabíveis e lembrar que arte e ciência sempre estiveram próximas, aonde artistas dissecavam como estudo de anatomia e anatomistas contratavam artistas para ilustrar seus estudos, botânicos estudavam pintura para fazer suas pesquisas compreendidas e se analisarmos a arte desde a antiga Grécia notaremos um que de coisa viva em esculturas de mármore e afrescos e na renascença essa expressão viva, é ainda mais notada em Michelangelo, Da Vinci e outros. Um grande exemplo disso é o estudo de bico de pena feito pelo artista e anatomista, espanhol Juan Valverde Amusco em 1549 que foi revisto agora em ossos, carne, nervos, plastiline, e pele nessa exposição

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