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segunda-feira, 26 de março de 2007

PUREZA

Hoje eu encontrei Pureza. É isso mesmo, com maiúscula sim, pois encontrei Pureza dentro de uma loja no Largo do Limão folheando cadernos infantis com lindas capas coloridas, enquanto vendedoras desesperadas, e despreparadas imaginavam um modo de colocá-la para fora. É que Pureza no seu estado normal não é muito apresentável socialmente e não cheira muito bem para nossos padrões civilizados, afinal ela é num termo politicamente incorreto, uma mendiga ou em um bom paulistanês,uma “mindinga” ou como se diz hoje, uma sem teto ou sendo mais chique “homeless”.
Pureza é assim uma personagem desse cotidiano meio insano, de uma metrópole como São Paulo, figura conhecida das regiões norte e oeste da capital assim como foi Jacaré, Pixoxó, Bifinha ou Bola Sete, e como todo sem teto tem uma aura mística que os envolve como uma mágica incompleta, ou ato inacabado de ópera bufa, cada um com sua historia enigmática e particularidades sutis.
Pureza em sua meiguice ininterrupta tem as suas, como todos e para justificar seu estado de pureza, sempre responde a perguntas tão simples como _Tudo bem senhora? Com frases como... _Não sou senhora, sou senhorita, sou pureza! _Senhora não! Sou virgem e pura; pura como a luz _Eu sou pureza! _Eu sou pura, imaculada!
Isso sempre de voz baixa sem gritos ou desrespeito, sempre sorrindo, como devem sorrir os puros, senão de corpo pelo menos de alma. Não sabemos seu nome, se tem família, se realmente é virgem, mas sabemos que é pura...de alma, não importa suas roupas sujas, seu saco de roupas companheiro, seus sapatos corroídos e nem sempre do mesmo par, ou seu odor desagradável, ela é pura e sendo assim devia dar exemplo aos “puros” de imagem ou de perfume inebriante e seus lindos sorrisos enganadores, um exemplo de educação, humildade e pureza.
Toda vez que olharmos Pureza em seus andrajos, devemos nos envergonhar de termos tudo, e todas as chances, de sermos para nós e nossos semelhantes seres dignos de confiança, pois Pureza não pede nada, não pega nada sem ordem ou se aproveita a distração de ninguém para sobreviver, ela vive do que encontra e do que alguém doa de coração,sem exigir nada em contrapartida, muito contrário do que estamos acostumados em nossa mesquinha sociedade, principalmente aqueles que deveriam ser os verdadeiros puros entre nós, nossos religiosos, empresários, policiais e sobretudo políticos paz e amor, empenhados cada vês mais em escusas negociatas e acordos promíscuos e enriquecimento desproporcionais em detrimento as suas verdadeiras funções e deveres sociais.
Dos empresários não deveríamos esperar muito, pois sinto que em 99% dos mesmos perdura a inexistência de coração e absoluta ausência de alma, Já nossas policias são de tamanha inoperância física como também de incrível imundice corporativa.
Nossos religiosos quando não são atraídos pelos 12 dinheiros de Judas, são promíscuos em corpo e fracos em repartir o pão como rezam os dogmas.
Políticos... Que seres são esses? Habitam o seio de nossa sociedade, se portam como jacarés nas corredeiras, com as bocarras escancaradas esperando que peixes gordos nelas caiam, e escorreguem por goela abaixo.
Se as lendas e escrituras religiosas estiverem certas da existência dos abismos infernais, com certeza seu senhor é político, seu criador também o era, e hoje quem administra é político de carreira; políticos esses que deveriam ter curso intensivo com nossa Pureza, para ver se aprendem como serem humanos e se despirem das suas imaculadas vestes de grife Giorgio Armani, se tornem simplesmente puros; puros não de corpo, mas de alma e atos como Pureza.

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