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domingo, 25 de março de 2007

O ETERNO ACALANTO LENTO, PARA ADORMECER BOVINOS

Ao serem instituídas as cotas universitárias para afro descendentes, indígenas e deficientes físicos, surgiram varias opiniões, na maioria das vezes contraditórias. Uns acham que tal ato fere os direitos de igualdade previstos em nossa constituição, outros já acham que é uma forma de preconceito e racismo, já há os que acham que a qualidade do ensino superior no nosso país cairá, e que esses alunos quando formados carregarão o fardo muito pesado de cotistas, levando os mesmos a serem execrados do mercado de trabalho. Há ainda os que acham que cotistas oriundos das escolas publicas, não acompanharão o ritmo e qualidade dos alunos que vieram de instituições particulares, ledo engano. Uma particularidade me surpreende nessas reclamações um tanto infundadas, boa parte delas vem de docentes e reitores e de discentes que não tem o mínimo motivo para reclamar pois são oriundos de classes mais abastadas demonstrando que se esse país não é pelo menos irônico é no mínimo ignorante.
Tenho plena convicção que, para me fazer entender tenho que relembrar que historicamente tanto negros índios ou deficientes físicos sempre foram excluídos pela nossa sociedade, só o fato do sistema de ocupação do país pelos europeus, massacrando o povo nativo sem discriminação de idade ou sexo, a importação de africanos estigmatizando para todo o sempre o índio como preguiçoso e incapaz para o trabalho escravo, temos ainda o próprio sistema escravagista que tratava o negro como simples coisa, um mero animal de carga e ganho e sua “libertação” que ao extinguir com uma penada a escravidão no dia 13 de maio de 1888 deu um legitimo “pé na bunda” de milhares de pessoas que de repente já no dia 14 não tinha aonde dormir, aonde comer, aonde morar restando para esses a solidão da estrada ou periferia das cidades. E os deficientes que ate hoje são desrespeitados em seu direitos diariamente, que sempre nesse arremedo de nação foram tratados como escoria ou como invisíveis, que sempre serviram para cantar na feira, esmolar a saída da missa, que sempre foram pichados de aleijados, mancos, coxos, manetas, ou o ceguinho da esquina, mas nunca como senhor, senhora, menino, menina. São aqueles que não tem ônibus, que não tem escola, calçada, via ou acesso.
É incrível como temos tantos críticos as cotas, que lançam retóricas sofistas ao vento sem ao menos pensar em fatores intrínsecos nessa questão, como por exemplo, que as cotas do Prouni, não são vagas que pertencem a outras pessoas por direito, e sim vagas remanescentes que ficariam ociosas até o fim das respectivas turmas, e que são importantíssimas para aqueles que não tem condições de pagar as mensalidades exorbitantes das universidades privadas, ou não foram aprovados nos massacrantes vestibulares para as publicas. Será que ninguém pensou que esses cotistas serão avaliados igualitariamente durante todo o processo de formação? E que a própria lei prevê, que não haverá de forma alguma distinção na forma de avaliação desses alunos. E aos sofistas ainda de plantão, saibam que após 2 anos de implantação do sistema, tanto o Ministério da Educação quanto as entidades mantenedoras e as universidades publicas que adotaram o mesmo processo chegaram a conclusão depois de pesquisas e estatísticas, que os alunos do Prouni tem aproveitamento de 25% a 40% maior que os alunos não cotistas, superando em alguns casos, alunos vindos do ensino médio de escolas particulares, e que os cotistas tem notas iguais ou superiores aos outros, e não costumam ficar com matérias em dependência, e quase nunca de exame.
Isso prova que talento não depende de etnia, escola publica, privada ou condição física; prova sim que temos distorções sociais graves nesse país, que o preconceito esta incutido e embutido no subconsciente das classes. Afinal o que vale mais, um cotista aprovado com méritos ou um aluno normal impedido de se formar devido ao excesso de dependências, ou quem sabe um aluno desistente?
Enfim, enquanto não nos livrar mos dos nossos preconceitos étnicos e sociais, que ainda contrata por boa aparência européia, enquanto não abolirmos de vez todos os estereótipos malditos que nos acompanham desde 1500. Enquanto nossos pseudo governantes não entenderem que a fabrica de analfabetos funcionais deve acabar, e que se a educação no país continuar claudicante, esse país não terá futuro, as cotas terão que existir e assim continuaremos a ouvir esse eterno acalanto lento para adormecer bovinos, daqueles que são contra as cotas.

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